Levantamento aponta e critica falhas estruturais da modalidade

Arquivo pessoal
A estudante de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Camile Araújo, apresentou na última sexta-feira, 4, o Trabalho de Conclusão de Curso que teve como tema ‘Realidade Do Futebol Feminino A Partir Do Campeonato Sergipano De 2024’. Além de atingir a nota máxima, Camile utilizou o momento para criticar algumas das falhas estruturais que ainda afetam o futebol em Sergipe.
Durante a defesa, a futura graduada, que também é atleta da modalidade, compartilhou as descobertas de sua pesquisa, que teve como foco o perfil das atletas participantes e a avaliação da organização e infraestrutura das equipes no campeonato.
Na pesquisa, foram entrevistadas 47 pessoas, sendo 42 atletas e 5 treinadores. Os resultados obtidos apontaram que o futebol feminino em Sergipe ainda enfrenta desafios significativos, permanecendo em um nível amador. A pesquisa também revelou que a falta de planejamento, infraestrutura, investimento, visibilidade e valorização das atletas são obstáculos que comprometem o desenvolvimento da modalidade no estado.
Confira:
Perfil Das Atletas E Treinadores Respondentes
Das 42 jogadoras entrevistadas, 4 são menores de 18 anos, 34 têm entre 18 e 30 anos, e 4 são acima de 30, sendo 36 anos a maioridade registrada. As menores de 18 anos estão concentradas em três times: Barra (2), Confiança (1) e Socorro Sport (1).
Entrevista com a autora
PASSE DELAS – Como surgiu a ideia de realizar o seu TCC sobre o Campeonato Sergipano de Futebol Feminino?
CAMILE ARAÚJO – Sou atleta de futebol feminino e participo do campeonato sergipano desde a edição de 2023. Então conhecia as condições do futebol aqui, já que estou na área há algum tempo. A partir disso, vi a necessidade de expor essa realidade através da pesquisa com as outras atletas e treinadores que também participaram do campeonato, já que é uma temática pouco estudada dentro do estado.
PD – Quais foram os maiores desafios ao conduzir uma pesquisa sobre a modalidade?
CA – Um dos maiores desafios foi a dificuldade em encontrar conteúdo escrito para a pesquisa, seja artigos ou até mesmo informações no site da própria Federação que pudessem agregar. Além disso, senti dificuldade em fazer com que as atletas respondessem a pesquisa, já que eu não tinha acesso direto a todas elas.
PD – Quais foram as principais descobertas da sua pesquisa sobre o perfil das atletas e a estrutura das equipes?
CA – Sobre o perfil das atletas, metade delas ainda estudam e a grande maioria delas trabalham fora o futebol, o que mostra que não conseguem sobreviver apenas de futebol aqui no estado. Atrelado a isso, nenhuma das atletas recebem salário e grande parte delas não recebem nenhum tipo de auxílio, o que dificulta ainda mais. A maioria das atletas chegaram para jogar o campeonato de 2024, mostrando que as equipes são recém formadas para a competição e que não há continuidade no trabalho. Já em relação à estrutura das equipes, faltam materiais adequados, infraestrutura de treino adequada, nem todas as sessões de treinamento têm embasamento científico e não há uma equipe multidisciplinar completa (a maioria apenas treinador e preparador físico).
PD – No seu ponto de vista, o que precisa para o futebol feminino em Sergipe evoluir?
CA – Para que o futebol feminino evolua no estado é preciso que haja um investimento nas equipes e nas atletas e que a FSF trate com mais seriedade o futebol feminino, planejando e divulgando o campeonato estadual com antecedência, buscando alcançar mais equipes ao redor do estado, o que ajudaria a aumentar o período de ação dentro do campeonato. Além disso, os clubes sergipanos têm que, além de criarem as equipes de futebol feminino, dar as condições necessárias para as atletas e comissão técnica realizarem os trabalhos, como materiais esportivos, espaços de treinamento, alimentação, hidratação, e ajudas de custos. Medidas básicas mas que não são cumpridas no futebol feminino aqui em Sergipe. Lembrando que são expus apenas alguns pontos, já que é um problema multifatorial e estrutural.
PD – Como foi ouvir os relatos dessas meninas que descreveram o que passaram com a falta de estrutura?
CA – Inicialmente minha ideia era realizar entrevistas para ter essas informações de forma mais detalhada, mas o tempo foi curto, já que o campeonato durou menos de um mês e a partir daí provavelmente eu não conseguiria ter mais acesso a todas as atletas. A partir dos próprios questionários que foram aplicados, minhas hipóteses foram confirmadas, e não me surpreendeu. Estou inserida no meio e sei exatamente o que essas meninas passam, infelizmente.
PD – Como foi a sua experiência pessoal com a falta de infraestrutura e apoio durante o Campeonato Sergipano de Futebol Feminino?
CA – Apesar de jogar por um dos principais clubes do estado e o atual campeão do campeonato feminino, ainda sofri com alguns dos problemas destacados pelas meninas. O local onde eu treinava não era no centro de treinamento do clube, e era bastante afastado do lugar onde moro, o que dificultava a minha ida até os treinos, já que o auxílio de transporte dado não condizia com a real necessidade. Além disso, estava estudando e trabalhando nos horários de treinos, que na sua grande maioria era pela tarde, e isso me impedia de ir a alguns deles. Os campos destinados aos jogos estavam em péssimas condições, e com uma péssima iluminação.
PD – Ao realizar sua pesquisa, você encontrou algum dado ou informação que te surpreendeu, algo que você não esperava sobre o cenário do futebol feminino em Sergipe?
CA – Pra falar a verdade, não. Tudo o que encontrei reforçou o que eu já sabia, mas agora obviamente com propriedade pra mostrar mais claramente. E, novamente, por também ser atleta, passei pelas mesmas situações, então já imaginava o que poderia encontrar a partir dos resultados.





