Futebol feminino é realmente valorizado pelo Jornalismo?

Valorização é a chave, e vai muito além de uma simples notícia

Reprodução

Por Eduardo Costa – Jornalista

O crescimento do público, da repercussão e do valor do futebol feminino é visível em todo o mundo. Nos grandes centros (leia-se Europa e Estados Unidos) as ligas nacionais se desenvolveram rapidamente, atraindo grandes estrelas e consolidando equipes que lotam os estádios. No Brasil, o processo também acontece, mas de maneira mais lenta. Mas afinal, qual o papel da mídia e do jornalismo nesse cenário?

É óbvio que automaticamente, quando se pensa em valorização por parte da mídia, o assunto ‘transmissões’ vem à tona. Para muitos, a valorização já está garantida apenas com a exibição de jogos. No caso da TV Globo, a principal emissora do país, a previsão para 2024 era de um faturamento de R$ 34 milhões com patrocínios para as transmissões, um recorde para a emissora. As finais dos maiores campeonatos são transmitidas na TV aberta.

Mas é só isso? Ou melhor, deveria ser só isso?

Vejamos o exemplo da Inglaterra. Lá, em outubro de 2024, a Women’s Super League (WSL) assinou um novo contrato com a TV aberta, na BBC, e a TV fechada, na Sky Sports. Além dos valores, o acordo também garante um avanço em outras frentes: horários de grades específicos já previamente definidos, exibição de todas as partidas da temporada, e as jogadoras recebendo pelos direitos de imagem com exibição de seus destaques nas mídias sociais, ajudando a valorizar as marcas das atletas.

Podemos citar vários outros pela Europa, mas o caso inglês já consegue amarrar bem a discussão. Aqui vemos o exemplo de uma mídia que atua pelo desenvolvimento da modalidade, com um jornalismo que dá espaço e produz conteúdos diversos. É claro que isso não se dá por mera bondade, e sim por questões comerciais de um público novo que surge. De qualquer forma, o passo é dado.

Agora vamos ao Brasil. Obviamente ter o apoio de uma emissora como a Rede Globo é o grande impulso midiático buscado. Mas como valorizar a modalidade se vemos casos como choques de datas com o futebol masculino e jogos em horários ruins, como 11h da manhã de domingo, apenas para encaixar na grade da TV. Essa é a valorização necessária?

Pensemos também no exemplo de Sergipe. Nesse mês de dezembro, tivemos o encerramento do Campeonato Sergipano de Futebol Feminino. O Juventude conquistou o título com todos os méritos, mas infelizmente o que fica marcado do torneio é o extracampo, com diversos problemas de organização e falta de estrutura, que vão desde a ausência de equipe médica em jogos a arbitragens literalmente amadoras. Isso sem contar as diversas desistências de clubes, o que quebra a igualdade para todos da disputa.

Problemas crônicos e altamente sensíveis para o funcionamento de um campeonato básico. Alguma cobrança sobre isso na mídia?

Ou melhor, alguma cobertura no jornalismo esportivo sergipano? Nós vimos a competição ser noticiada na imprensa?

Projetos como o “Passe Delas” ganham destaque na cobertura não apenas porque fazem um trabalho sério e competente. Este reconhecimento do meio futebolístico se dá por um outro motivo que parece simples: eles estão lá. Enquanto grandes veículos pedem por igualdade e valorização, mas ignoram a existência do campeonato, os independentes estão ali.

Sem a presença e o combate da mídia e do bom jornalismo, tais problemas acabam se tornando padrão. Afinal, “pra que melhorar se ninguém cobra?”.

Noticiar na final quem levou o título, fazer texto com resultados, transmitir jogos… tudo isso divulga, impulsiona e é importante. Inegável. Mas sem a devida cobertura, tais atitudes acabam se tornando muito mais supérfluas do que qualquer outra coisa.

Nós, jornalistas e envolvidos na mídia esportiva, precisamos de uma autocrítica importante e profunda neste tema. A valorização é a chave, e vai muito além de uma simples notícia.

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